Visual law é uma forma de trazer uma experiência visual para o ambiente jurídico que traga mais clareza para os processos, para peças jurídicas, para os clientes, em geral.
Você, advogado ou estudante de direito, tem alguma dúvida sobre o que é o visual law? É perfeitamente compreensível que – em um mercado tão tradicional quanto o jurídico – algumas dúvidas podem surgir, principalmente quando é feita uma interdisciplinaridade entre as áreas, resultado da advocacia 4.0.
Pensando nas dúvidas que os colegas de profissão podem ter, nós da Freelaw preparamos este artigo, que é basicamente uma transcrição dos principais pontos dalados no episódio #43 do Laywer to Lawyer, o nosso podcast. Nele, o Gabriel Magalhães entrevista Leonardo Sathler.
Então, você que tem dúvidas também sobre legal design; quanto à relação do design com o acesso à justiça; sobre como é possível utilizar o design em seu escritório de advocacia; em relação aos benefícios e às ferramentas que podem ser utilizadas, continue conosco! Será um prazer conversarmos um pouco acerca destes assuntos.
Antes de começarmos, quem é Leonardo Sathler?
Sathlet é bacharelando em direito pela Faculdade de Direito Milton Campos. Instrutor de formação profissional pela FIEMG e Biologista de Soluções em Logística.
A carreira dele como designer é indiscutível: ele já atua há mais de 20 anos nessa área e ele foca bastante a sua atuação na experiência do usuário.
O curioso da carreira do Leonardo é que ele já era designer e aí ele teve um problema jurídico. E quando ele teve um problema jurídico, buscou um advogado e começou a perceber que o mundo jurídico possui muitas lacunas que talvez o design poderia ajudar.
Ao perceber isso, começou a se aproximar mais do ramo jurídico. Gostou tanto que se tornou estudante de Direito também.
Hoje ele presta serviços para advogados e também para bacharelandos em direito.
E o Gabriel Magalhães, quem é?
Gabriel é um dos fundadores da Freelaw e o host do Lawyer to Lawyer. Ele é bacharel em direito pela Faculdade Milton Campos. Além disso, possui formação em coaching executivo organizacional, pelo Instituto Opus e Leading Group. Formação em mediação de conflitos, pelo IMAB, e em mediação organizacional, pela Trigon e pelo Instituto Ecossocial. Certificações em inbound marketing, inside sales e product management pelo Hubspot, RD University, Universidade Rock Content, Gama Academy e Tera, respectivamente.
Caso você prefira, pode escutar o episódio completo abaixo:
Qual a diferença entre visual law e legal design?
Leonardo conta que começou a estudar e a buscar informações sobre novas formas de poder ajudar e impactar positivamente o direito por meio do design. Então, as definições abaixo foram ditas por ele:
Visual law: definições
Visual law é uma forma de trazer uma experiência visual para o ambiente jurídico que traga mais clareza para os processos, para peças jurídicas, para os clientes, em geral.
De uma forma bem lúdica, mas que traz uma coesão da informação desde o início, quando o visual law for planejado, pode ser desdobrar em um processo, em uma cartilha jurídica, em um evento ou em uma apresentação, por exemplo.
Então, o visual law traz uma facilidade de entendimento para o público que não conhece a área jurídica. Ou seja, quem não é um estudante ou quem não é um operador do direito, compreende a proposta daquele documento jurídico.
São soluções trazidas, desenvolvidas em outros segmentos, nas quais o direito acabou abraçando para poder, digamos, “seguir a onda” conforme as outras empresas do mundo, para criar novas experiências utilizando novas formas de comunicação.
É uma forma lúdica, visual, de interpretar, de mostrar o direito para todas as pessoas.
E o legal design?
O legal design diz mais sobre processos, sobre formas de atuação do direito internamente em um escritório. Ou seja, também durante uma audiência, durante um processo, para que todas as partes possam compreender de uma forma muito mais clara o que está acontecendo em um problema encontrado.
O que nós podemos trazer de novidade nisso é que é muito mais célere, é muito mais prático e muito mais inteligível a aplicação do legal design no mercado jurídico atual.
O legal designs abdica daquele “juridiquês” clássico, conforme os clientes, normalmente os usuários finais do mercado jurídico sempre reclamam e apontam essa dor. O “juridiquês” incomoda muito as pessoas.
Outra coisa que o legal design vem ajudar a solucionar são as peças muito extensas. E isso pode trazer um incômodo, até mesmo, para a magistratura que está decidindo aquela questão e que, muitas vezes, precisa ler uma petição inicial de 100 páginas, imagina?
Então, o legal design vem para ajudar nesse novo conceito, nessas novas metodologias de se aplicar o direito para conseguir melhorar os processos e o entendimento para todos que atuam nesse ramo. E isso também está começando, aos poucos, a entrar na academia.
Direito, tecnologia e design: qual a relação entre essas áreas?
O “The Legal Design Lab” é uma iniciativa de Stanford e diz que o legal design é uma combinação do direito com a tecnologia e com design.
Então:
- o direito vai ser utilizado para promover a justiça para a sociedade, para resolver os problemas complexos que a gente tem hoje;
- a tecnologia vai fazer com que a gente tente resolver esses problemas com menos custos e de uma forma mais efetiva;
- e o design vai ajudar a gente a criar soluções que as pessoas entendam e que as pessoas consigam usar.
Gabriel: E, quando a gente fala de design no direito, acho uma coisa que é muito bonita, que isso está muito conectado com acesso à justiça. Porque se a gente só fala “juridiquês”, se os nossos clientes não entendem o que a gente fala, ainda que eles sejam clientes muito instruídos, a gente tem um sério problema de acesso à justiça, né?
Leonardo: Exato. O foco sempre será no usuário. Antes, as soluções eram mais pensadas para o público de massa. Agora não. Está afunilando em períodos, em processos, digamos, bem mais rápidos, aquilo que o usuário precisa resolver com aquele problema X.
Então, por exemplo, se for na Justiça, o usuário não entende um termo que o advogado fala para ele. Como que o design pode ajudar nisso? Trazendo algumas soluções de processo para que este usuário possa compreender melhor.
Para quê o cliente tem que compreender melhor áreas que ele não domina?
Leonardo: Porque nós vamos falar de um termo, que, assim, na minha área eu utilizo muito, quinhentas vezes por dia, chamado “experiência do usuário” ou, em inglês, “user experience” e isso que determina todo o foco de um de um projeto, todo o foco de um processo em que, aquilo que se procura resolver para melhorar a experiência daquele usuário.
Trazendo alguns exemplos aqui, podemos falar que se você pensa na experiência do usuário para na hora de vender um produto, você, digamos, tem que “calçar o sapato” daquele usuário, entender as dores que ele tem. Enfim, há uma série de fatores que devem ser analisados e testados para que o produto tenha um sucesso na hora da sua venda, da sua exposição. E assim também é no direito.
Trazendo para o mercado jurídico, caso o usuário não comece a entender, ele deixa de acessar a justiça ou deixa de buscar soluções legalmente cabíveis, para pensar algumas soluções extrajudiciais que não são tão, digamos assim, tão indicadas para aquela situação enfrentada.
Então, relacionando isso a uma melhor experiência do usuário para o direito, nós podemos notar que as pessoas se sentem melhor realizadas com aquela informação, com aquele procedimento dado a ele e explicado de uma forma clara. É aí que o design entra: para agregar uma melhoria à compreensão do direito.
Como implementar o visual law no seu escritório de advocacia?
E o que um escritório pequeno, às vezes até um advogado autônomo, pode fazer amanhã para, de fato, conseguir aplicar isso na realidade?
É importante frisar que design thinking, visual law e legal designs não são tecnologias, mas melhorias de processos para os quais o mundo todo está caminhando em direção.
Então, para melhorar os processos, o primeiro passo é iniciar o consumo de conteúdos sobre o assunto!
Como não prejudicar a experiência do cliente com designs desnecessários?
Quando a gente fala de design, no geral, inicialmente, pensamos em infográficos, em um design bonito. Só que essa não vai necessariamente ser a melhor alternativa, porque talvez o que o seu cliente precisa não é de uma peça muito bonita, mas de uma comunicação mais efetiva, de mais retornos.
Gabriel: eu estou lembrando muito de um caso meu, recente, aqui perto do escritório da Freelaw. Tem dois barbeiros aqui perto e eu de vez em quando vou em um, e de vez em quando vou em outro.
Uma dessas barbearias, ela é daquelas barbearias mais modernas. E aí você chega lá e eles te oferecem uma cerveja. Todo o aroma bonito. Eles criam uma experiência completamente diferente. Já a outra barbearia, é até arrumada, mas não é igual a outra não. Só que essa outra barbearia o corte é muito mais rápido.
Primeiro, eu estava indo naquela outra que era mais arrumada e eu vi que o corte estava demorando muito. E eu, como cliente da barbearia, o que eu mais queria não era a cerveja. Eu queria que o corte fosse rápido e eficiente.
A outra ela podia até ter investido menos em todas essas outras questões. Mas como ela estava satisfazendo a minha maior necessidade, que era ser rápido, eu comecei a ir só nela.
Então acho que acho que vários escritórios falham porque estão investindo em muitas coisas para cativar seus clientes, mas não têm atenção na necessidade principal deles, como essas barbearias que citei.
No processo do design, a primeira coisa que devemos descobrir quem é nosso cliente, antes de responder a perguntas ou antes de pensar em tecnologia e em processos.
Quem é o nosso cliente?
“Bom, nosso cliente é o Gabriel. E, o que ele quer? Ah, o Gabriel quer um corte mais rápido. Opa! Descobrimos o cerne. Ponto. E se o Gabriel quer um corte mais rápido, então, existem outros também com a mesma perspectiva do Gabriel, no qual nós podemos atender.”
Então, o escritório de advocacia que decide fazer os investimentos em X, Y, Z, deve pensar, antes, em conhecer o seu cliente. Conhecendo seu cliente, ele consegue otimizar o investimento.
E, melhor, otimizando o investimento, é possível realocar aquele dinheiro que sobra para outros investimentos futuros, para agregar novos tipos de clientes, para conhecer novos usuários.
Investimentos iniciais no visual law e identificação de problemas
Existem investimentos iniciais muito baratos que qualquer escritório de advocacia pode suportar. Então, o que será feito?
- Primeiro, como vimos: entender o cliente;
- E, segundo: desenhar o processo.
Para desenhar o processo você vai gastar 03 coisas: lápis, papel e cérebro. Essas três coisas todo mundo tem ou, pelo menos, deveria ter, né?
Então, inicialmente, é entender o cliente, desenhar o processo, descobrir dores e solucioná-las. E, a gente fala no final do procedimento de design sprint que é testar as soluções. Testando essa solução, o escritório vai poder já vai entender que aquele ali é o problema a ser resolvido.
E se o problema não foi resolvido?
Algo dentro desse desenho do processo não foi compreendido de maneira clara. E aí, volta-se a desenhar o processo, no qual, gasta-se lápis, papel e conhecimento.
Então, é redescobrir o que precisa ser feito. Isso aí não é custo alto para nenhum escritório. Depois que vai se investir em tecnologia, em pessoal mais capacitado. Nós não olhamos para quem é a empresa atualmente. Nós vamos olhar para o usuário dela, este é o foco. Tudo deve ser pensado no cliente, na experiência do usuário.
Vamos pensar de uma forma sistêmica, vamos entender qual é a causa raiz do problema:
- Será que o problema está na cultura do escritório?
- Será que o problema estão nos procedimentos internos?
- Será que está na divisão de tarefas?
- Será que o problema está na falta de comunicação com cliente?
- Será que alguma ferramenta visual pode ajudar na comunicação com o cliente?
E, a partir disso, você entende o seu maior gargalo, define as maiores prioridades e começa a realizar testes para ver o que vai gerar mais resultados, com o mínimo de recurso possível.
Design no direito e desenvolvimento de soluções
Leonardo: e eu vou falar aqui seis verbos que são o cerne do legal design nos processos de desenvolvimento das soluções.
Anote aí: empreender, observar, definir, idealizar, prototipar e testar. Isso aí, pessoal, para quem nunca ouviu falar isso é uma sequência de procedimento que nós conseguimos resolver qualquer problema de processos, de resolução de dores dentro de um escritório de advocacia.
O que um advogado precisa aprender sobre visual law?
Já ficou entendido que o design não é só as peças bonitas, o infográfico, os ícones, a estética. Mas, vale a pena um advogado aprender a estética? Vale a pena ele aprender photoshop? Vale a pena ele contratar alguém para fazer isso?
O advogado precisa conhecer de tudo um pouco, mas ele não precisa se debruçar. Porque ele tem que focar, sim, na sua área central, no direito, mas ter um pequeno conhecimento das outras áreas é ótimo, até mesmo para saber argumentar sobre algo que ele precisar resolver de última hora.
Então, os advogados podem conhecer e ler um pouco mais sobre legal design. Em relação ao softwares, não precisa ficar se preocupando, porque normalmente muitos profissionais podem dar um suporte naquilo que o advogado vai precisar.
Logo, separamos alguns conteúdos que podem te ajudar nesse processo:
- Legal Design: o que é, por que e como aplicar;
- Direito 4.0, Dados, Arte, Criatividade e Legal Design;
Quais ferramentas podem ajudar um advogado no visual law?
Existem ferramentas úteis que todo advogado pode usar: o Canva, o Power Point, o Keynote… Com essas é possível quebrar bastante o galho no início, aprender um pouco, dependendo do tanto de recurso que você tem.
Agora, se você tem um pouco mais de recursos, aí é importante que a gente entenda qual é o seu maior problema. Se o seu maior problema é a captação de clientes, então, talvez vamos investir em um designer para ajudar em redes sociais, para ajudar, às vezes, em melhorar o contrato de prestação de serviços com o cliente para que fique mais visual ou algo assim.
Uma coisa para captar clientes, talvez não vai fazer tanto sentido que você invista em um designer para melhorar a efetividade das suas petições, nesse momento. E aí pode ser que faça sentido contratar um freelancer em uma empresa ou talvez internalizar um designer.
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Devo organizar um setor de visual law no meu escritório?
Como dito anteriormente, vai depender da sua necessidade e dos seus recursos.
Leonardo: só trazendo um pouco de informação a mais, por exemplo, os squads são times formados por pessoas de áreas diferentes para solucionar um certo tipo de problema ou para realizar uma demanda corriqueira que exista dentro das corporações.
Então, trazendo como exemplo, nós podemos pegar uma pessoa do financeiro, uma pessoa do RH, uma pessoa de operações e uma pessoa do jurídico. Ali, nós podemos formar um squad com essas quatro pessoas para resolver uma dor, algo que está incomodando ou que está atrapalhando e está freando o desenvolvimento da empresa.
Algo que um X sozinho, por exemplo, só o financeiro, não poderia resolver; só o jurídico ia demorar a resolver; só o operações, talvez não compreenderia bem aquele problema. Então, nós juntamos pessoas de áreas diferentes e formamos os squads.
É uma dinâmica muito horizontal e muito interessante de trabalhar, no qual dá para ser aplicada em escritórios jurídicos de advocacia e quem realiza isso são os designers de experiência (ou user design experience). Eles podem levar e formar essas equipes com o conhecimento do design aplicados nos processos, construindo essas equipes com uma horizontalização melhor do time.
Ou seja, eu posso pegar até mesmo um CEO e colocar dentro de uma equipe, e formar um squad com uma pessoa de “chão de fábrica” e ali resolver uma situação. E dentro do campo jurídico, especificamente no escritório advocacia, nós podemos formar equipes, squads, com pessoas até mesmo com pós-doutorado em um estagiário junto da mesma equipe para resolverem aquela dor, para trazer a melhor dinâmica, melhor desempenho para aquele escritório.
Isso tudo é conhecimento de design aplicado no escritório. Quando a gente trabalha junto, a gente potencializa uns aos outros e aí, gente consegue resolver problemas cada vez mais complexo de uma forma mais efetiva.
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