Você quer saber mais sobre Direito Condominial? Como funciona na prática?
Quer saber como a Mediação pode auxiliar na vida como um todo?
No episódio # do Laywer to Lawyer, o podcast da Freelaw, Gabriel Magalhães entrevista Saulo Álvares.
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Saulo Álvares
É advogado associado ao Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário – Ibradim com experiência no segmento do Direito Condominial, reunindo também ampla expertise em gestão condominial, tendo ocupado postos de conselheiro, sub-síndico e síndico.
Além disso, possui formação em Mediação Judicial de Conflitos pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe – TJ/SE e ocupou o cargo de Vice-Presidente da Comissão de Mediação, Conciliação e Arbitragem da OAB/SE no Triênio 2016-2018.
Gabriel Magalhães
É um dos fundadores da Freelaw e o Host do Lawyer to Lawyer. É bacharel em Direito pela Faculdade Milton Campos.
Possui formação em Coaching Executivo Organizacional, pelo Instituto Opus e Leading Group.
Formação em Mediação de Conflitos, pelo IMAB, e em Mediação Organizacional, pela Trigon e pelo Instituto Ecossocial. Certificações em Inbound Marketing, Inside Sales e Product Management pelo Hubspot, RD University, Universidade Rock Content, Gama Academy e Tera, respectivamente.
Escute o episódio em seu player de áudio favorito e leia o resumo do episódio abaixo que conta com todas as referências citadas durante a gravação.
Gabriel: Olá advogado, olá advogada, seja bem-vindo a mais um episódio do Lawyer to Lawyer da Freelaw.
E, hoje, estou muito feliz de estar aqui com Saulo Álvares, ele é advogado associado ao Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário, o IBRADIM, e tem muita experiência na área de Direito Condominial.
A atuação do Saulo é um pouco diferente dos outros advogados, porque ele tem uma experiência muito grande com a mediação judicial, então ele sempre busca resolver o conflito entre seus clientes de uma forma extrajudicial.
Saulo: Muito obrigado, Gabriel, e todos que nos acompanham aqui no Lawyer to Lawyer, é uma honra participar deste momento, meu sócio já esteve aqui e referendou muito bem este espaço, então espero contribuir com algo para quem nos acompanha.
Gabriel: Muito obrigado, Saulo. O Thiago Noronha, para quem não escutou o episódio, é o sócio do Saulo, eu conheci o Saulo através do Thiago, o episódio com ele também está bem bacana, eu recomendo que, quem não escutou, escute.
Saulo, conta um pouco mais da sua trajetória, como você foi parar na mediação e como você atua nessa área?
Trajetória no Direito
Saulo: Bom, Gabriel, eu iniciei os estudos na área de mediação ainda na faculdade, na graduação, mais ou menos da metade do curso para cá, estou falando, então, de 2013.
Eu sou um jovem advogado pelos padrões da OAB, sou advogado há cinco anos, então eu iniciei os estudos nessa área dentro da faculdade justamente por perceber as queixas que a gente tem comumente em relação ao andamento processual no Judiciário: lentidão, falta de infraestrutura para dar vazão a tanto volume.
Sem falar no fato de que muitas das decisões obtidas no Judiciário, as chamadas decisões judiciais heterocompositivas, não suprem realmente as demandas das partes, ou seja, não satisfazem efetivamente aquilo que elas buscam.
Então fui observando esses detalhes e comecei a me interessar por essa área da mediação, da conciliação, da negociação lato sensu e, de lá para cá, venho tentando aprimorar essas ferramentas na minha advocacia e na minha vida como um todo, sobretudo na advocacia.
Mediação
Gabriel: Legal, Saulo.
E, uma questão, hoje todo mundo fala muito que a mediação é a forma de resolução do momento e já escuto muitas pessoas falarem que a mediação é algo do futuro, mas que, também, é muito difícil ganhar dinheiro hoje. Como você enxerga isso.
Saulo: Gabriel, nós temos uma dificuldade cultural, ainda, a ser superada em relação a esses institutos.
O que eu percebo é que os advogados ainda têm um temor que, na minha opinião, na verdade é baseado em um desconhecimento técnico de como utilizar um instrumento para angariar seus honorários.
Darei um exemplo: quando temos um conflito na nossa realidade, nós praticamos muito a negociação porque, como você mencionou, a gente trabalha no escritório com a parte imobiliária condominial e, dentro do ambiente condominial, a gente faz muita cobrança de quotas em atraso e o que a gente percebe é que 80% das nossas demandas são resolvidas com negociação, fora do Judiciário.
Veja que interessante, mesmo quando a gente aciona o condômino para receber aquelas quotas, antes da audiência, ou antes da sentença, a gente consegue resolver fora do processo.
Então a taxa de sucesso neste âmbito é muito alta e os honorários são pagos. Assim, não temos dificuldades financeiras ou de recebimento pela prática da negociação.
Evidentemente, isto tem um custo um pouco maior, custo de tempo.
Porque você precisa conversar com a outra parte, disponibilizar-se a realizar reuniões que talvez não estavam no script da ação judicial, mas é uma energia que você empreende naquele processo e que abrevia o tempo de solução para seu cliente e, enfim, os ganhos são muito maiores.
Gabriel: Saulo, você poderia contar para a gente como é sua atuação na prática?
O cliente já te contrata querendo que você faça uma mediação ou é você quem sugere para ele?
Saulo: Veja, a gente sugere a depender do caso.
Na prática, vou ser muito franco, nós não realizamos procedimentos de mediações formais, à luz da Lei específica de 2015, junto ao CPC, a gente não segue procedimentos formais de mediação, estou sendo muito franco e colocando a nossa realidade.
Mas também compreendo que a gente trabalha muito com a realidade dos condomínio, por isso, eu falo sempre que mediação e conciliação e cito a negociação lato sensu, porque se a gente analisar bem, ambos os institutos derivam da negociação, que é a ferramenta pela qual eu sou apaixonado, que é quando as partes eliminam a necessidade de um terceiro imparcial e, diretamente, sentam para conversar e tentar solucionar seu impasse.
Então, se eu for muito franco com você e com os nossos ouvintes, eu digo que o que a gente pratica, de fato, é a negociação, porque a gente não segue o procedimento formal que requer uma notificação para a outra parte, seu comparecimento dela facultativo, obviamente, isso está na Lei, mas a gente não segue à risca esse procedimento.
Nós fazemos negociação no dia-a-dia. Negociação no âmbito do processo. Se a gente tem uma demanda de um cliente, o primeiro passo é identificar a outra parte, ou o advogado dela, se ela já estiver representada, e chamar para uma conversa, isso a gente faz muito.
A gente observa a situação e explica para a outra parte que estamos “de peito aberto” para solucioná-la e perguntamos qual seria um caminho possível para isso e como poderíamos traçar juntos um melhor horizonte.
Entende, Gabriel?
Gabriel: Entendi.
Saulo: Essa é a prática que a gente adota. É um estilo de vida, uma filosofia.
O advogado tem que trazer isso para o seu íntimo: eu quero negociar, quero esgotar todas as vias de diálogo antes de, efetivamente, partir para a discussão do litígio em si.
Gabriel: Eu acho interessante você falar isso, Saulo, porque acredito que muitos advogados e mediadores gostam de colocar as coisas em uma “caixinha”.
Então: isso é mediação, isso é conciliação, isso é arbitragem e isso é negociação. Eles pensam que é preciso utilizar algum desses métodos seguindo cada passo dele para resolver o problema do cliente.
Porém, muitas vezes, na prática, você consegue usar algumas técnicas de mediação ou algumas de negociação ainda que não esteja em um procedimento formal e atingir resultados bem vantajosos para os clientes.
Eu digo isso porque também sou mediador de conflitos e a mediação me ajuda muito em fazer o podcast, por exemplo.
Porque a mediação basicamente te ajuda de comunicar de uma forma mais efetiva, a entender melhor como funciona uma negociação, a vender melhor a seus clientes, a ser mais empático com as pessoas, a saber fazer mais perguntas, e isso tem um valor muito grande, pelo menos na minha vida, não sei se isso faz sentido pra você.
Saulo: Faz total sentido. Vamos colocar “os pingos nos I’s”, como se diz popularmente.
Se você quiser trabalhar a questão dos métodos autocompositivos, dos métodos alternativos, você precisa de um maior rigor quanto à separação técnica, e cabe isso tudo.
Cada ferramenta tem uma aplicação recomendada, você, Gabriel, bem sabe, porque atua na mediação. A conciliação é mais recomendada para conflitos pontuais. Em conflitos de relação continuada, recomenda-se a mediação.
Enfim, mas no dia-a-dia real, a gente percebe que as ferramentas vão se fundir porque o mais importante é solucionar o problema dentro das balizas legais.
O nosso papel, hoje, enquanto advogado, é de consultor, nós precisamos oferecer soluções.
Então é importante que eu saiba diferenciar as ferramentas, mas que tenha a consciência de que elas dialogam entre si, no contexto negocial.
Gabriel: E, Saulo, quando eu falo de mediação, muitos advogados questionam, perguntando se isso realmente funciona, se mediação é “abraçar árvore”, a turma do “paz e amor”, como você faz isso na prática com duas pessoas que estão muito exaltadas em um momento?
É possível fazer isso?
E como um advogado que formou sendo treinado pelo combate, para ser um advogado do Judiciário consegue se utilizar, ainda que minimamente, esses princípios e esses métodos em sua atuação profissional para que consiga benefícios?
Saulo: Bacana, perfeito, Gabriel.
Veja só, vou começar destacando um ponto: eu fui gestor condominial, acho que você até mencionou isso no início, fui síndico do condomínio em que eu morava por dois mandatos e, se tem um lugar onde há conflitos, convenhamos, é no condomínio.
Não sei se você mora em um condomínio, mas o ouvinte que está acompanhando tem alguma queixa relacionada a sua convivência condominial.
Então perceba, quando eu fui gestor, eu já conhecia os institutos, já trabalhava na mediação e a utilizei muito no âmbito condominial.
Eu tinha dois condôminos em conflito, geralmente por conta de barulho, de animais, de som, e não foram poucas as vezes em que eu os trouxe para a sala de administração do condomínio para conversar com eles e, claramente, expondo as possibilidades que eles tinham.
E, nesse caso, se a gente olhar ao rigor da boa técnica, nem seria uma mediação, seria um papel mais ativo como um conciliador, por isso que eu falei que os institutos se entrelaçam – mas o fato é: eu propunha que a comunicação fosse restabelecida e foram várias as situações em que aquela conversa resolveu problemas que estavam se escalonando há um tempo.
Então assim, efetivamente, a mediação funciona. É preciso desmistificar, separar.
Qual foi a segunda parte da pergunta mesmo, Gabriel?
Gabriel: No caso, eu te perguntei o que você acha que um advogado que é muito combativo, aquele que, quando formou, ainda não existiam esses métodos, visto que é algo recente na Doutrina, pode se aproveitar desses métodos para que ele faça uma mini transição para eles?
Perfeito. Eu não sei qual foi a sua formação, tem gente do Brasil todo e até no mundo nos acompanhando, então, o que eu posso dizer é sobre a minha formação.
Eu aprendi processo, ou seja, a litigar, em 60% do meu curso e apenas nos 30%, até 20% finais é que veio a semente da mediação e dos outros métodos.
Nós somos preparados pela academia para litigar, mas eu percebo uma onda de inovação nesse sentido, alguns cursos já reformaram seu formato curricular de modo a prestigiar os métodos autocompositovos/alternativos.
Porém, é uma realidade que a gente ainda precisa encarar.
Então, na minha concepção, o que o advogado pode fazer: primeiro, ele precisa conhecer e estudar os institutos para saber separar; dar especial atenção à negociação e eu vou insistir nisso, porque a base de todos os outros métodos é a negociação.
O próprio processo judicial é permeado de negociação o tempo todo, então, o advogado contemporâneo precisa dominar técnicas negociais, precisa saber sobre isso.
Um outro ponto fundamental é encarar a outra parte não como um inimigo, não como alguém com quem eu não posso sentar, alguém que se deve evitar a todo custo, sobretudo o advogado da parte contrária, ele é consultor tanto quanto você.
Então o importante é que vocês consigam sentar à mesa, racionalmente, até porque, às vezes o cliente está envolvido demais com a sua causa, a emoção aflora, então os advogados devem ser conduzidos por Câmaras, institutos preparados para conduzir esse procedimento de mediação, ele não é feito em escritório, a gente utiliza a mediação como ferramenta procedimental.
A gente trabalha muito com ação de extrato, atraso de obra, então, muitas vezes, é preciso combinar com o cliente o estabelecimento de uma negociação inicial, com prazo de 30 a 45 dias, quando a gente vai tentar bater na porta da empresa e acioná-la, conversar com eles, tentar uma fase administrativa e, por essa fase processual, você paga X.
Se a gente não conseguir sucesso, precisamos acionar judicialmente e, então, incorporamos o valor dos honorários fixos e passamos isso para o cliente.
Ele, então, ficará muito à vontade porque poderá optar por partir diretamente para o litígio/processo ou iniciar com a demanda administrativa.
Qual é a vantagem desta última, com ela, você pode solucionar o impasse em questão em um mês e meio, dos meses, e nós sabemos que, no Judiciário, a coisa não é tão célere assim.
O importante, e vou utilizar de uma frase clichê, é pensar “fora da caixa”. Você precisa buscar alternativas. O que o advogado não deve é temer o instituto, isso jamais.
Ele precisa entender a negociação e adequá-la de acordo com a sua realidade, por exemplo, eu não conheço a fundo a realidade do colega que trabalha com criminal ou a realidade do colega do previdenciario, eu posso falar da nossa realidade.
Nós trabalhamos com condomínio, basicamente, Direito Imobiliário e com empresas, meu sócio é quem foca nesta parte, a parte de startups, etc.
Então essas duas áreas, não sei se são as áreas em si, mas elas facilitam muito esses caminhos alternativos.
Gabriel: E Saulo, eu fiquei curioso numa questão, essa taxa administrativa que você cobra é com êxito ou é um valor fixo geralmente, e como você o quantifica, é com base no eventual valor da causa, em quê?
Geralmente a gente cobra um valor fixo para a negociação, um valor de entrada, vamos dizer assim, e um percentual sobre o êxito porque, se houver proveito econômico ali, a gente trabalha sobre um percentual que vai se replicar caso a gente vá para o processo.
Então é basicamente aquele momento do êxito processual.
Legal, isso pode ser bastante interessante para os colegas advogados que estão nos escutando, que nos dizem muitas vezes que têm dificuldades para precificar honorários.
Essa solução que o Saulo usa no escritório é bem legal, ele cobra uma taxa administrativa para tentar negociar caso o cliente queira e, se ele já conseguir fechar essa negociação, será muito benéfico para o escritório.
Porque já acaba o trabalho de uma forma bem rápida e ele é remunerado por isso e, caso o cliente queira, vai para o judiciário e se cobra um outro tipo de taxa e, aí, o trabalho, em uma questão de tempo vai ser maior.
E uma questão que, te escutando, eu fico pensando: às vezes, a gente acha que a mediação, a conciliação consistem em uma obrigação de se fazer o acordo, mas, na minha visão, não é bem isso, a mediação, a conciliação e a arbitragem são todas opções para se resolver o conflito.
O advogado tem um dever até ético perante o cliente de, dentre todas essas ‘portas” que existem para resolver o conflito, buscar a mais adequada para seu cliente porque, se ele indica um cliente um cliente para uma porta menos adequada, estará trazendo prejuízo para este.
Saulo: Sim, é um dever ético que está previsto, inclusive, em nosso diploma ético. A gente precisa orientar o cliente adequadamente sobre riscos, caminhos e alternativas.
Então é por isso que temos o dever, Gabriel, de conhecer os institutos e aí, realmente, contraria-me ainda um pouco quando vejo tanta confusão ainda acerca deles, a gente precisa disseminar isso e, vou destacar, é por isso que o trabalho desenvolvido junto à Comissão da OAB, até a gestão passada, foi fantástico porque nós, aqui no Sergipe, realizávamos mensalmente encontros com a classe acadêmica, estudantil e civil para tentar disseminar cada institutos, fizemos sobre mediação, sobre conciliação e trouxemos até arbitragem, apesar de não ser autocomposição, mas por ser um método alternativo.
Precisamos somar esforços para que esses institutos sejam efetivamente conhecidos e, como eu falei, eu não me apego muito à técnica, minha paixão maior é a negociação, gosto de trabalhar com a negociação porque ela permeia a nossa vida enquanto seres humanos o tempo todo, então sou fascinado por isso.
Gabriel: Legal, Saulo. Hoje, a maior parte dos advogados, principalmente dessa nova geração e que eu converso e já me relataram alguns problemas por meio da Freelaw, quase todos são entusiastas desses métodos extrajudiciais, querem atuar com uma advocacia mais consultiva, só que, muitas vezes, na prática, é difícil de encontrar essas oportunidades.
Então, eu vejo que: você era síndico e, provavelmente, nesse meio de atuação, começou a enxergar mais oportunidades e, a partir disso, foi criando seu portfólio de serviço.
Queria entender um pouco mais sobre como foi esse momento em que você decidiu se especializar nessa área, como você tomou essa decisão e como você encontrou essa oportunidades.
Saulo: Perfeito. Veja só, Gabriel, quando fui síndico, eu contava, à época, com uma assessoria jurídica porque eu não advogava ainda, estava na faculdade, mas essa assessoria era muito generalista.
Eles eram um escritório voltado ao cível que fazia praticamente tudo dentro do cível, não havia uma especialização em condomínio e eu percebi como essa área era complexa que vem, na verdade, se tornando mais complexa a cada dia.
Na última semana, tivemos pelo menos duas inovações palpáveis que vão afetar diretamente a área condômina: uma relacionada aos animais e a outra relacionada ao voto eletrônico nas Assembleias, que são duas demandas hoje muito críticas para quem trabalha com condomínio.
Enfim, foi ali, como síndico, que eu enxerguei um nicho e, pelo menos aqui em Aracaju, ainda não temos vários escritórios especializados em condomínio, temos alguns, mas isso ainda não é tão pulverizado, então comecei a estudar e a me dedicar para essa área.
Confesso, ainda não concluí minha especialização em direito condominial, eu considero isso talvez uma falha, mas vou tentar talvez justificá-la.
Como de início, são três anos de advocacia, eu comecei já voltado para essa área, para esse nicho, querendo conquistar o mercado com muita vontade, logo já no início da trajetória querer incluir os esforços, eu optei por priorizar o trabalho, a mão-de-obra e deixei em segundo plano a vida acadêmica. Isso tem alguns custos.
E eu falo isso e abro realmente esse detalhe porque existem colegas que devem estar iniciando na advocacia, então, é importante que eles reflitam sobre o que é prioridade para eles.
Se eu pudesse, voltaria atrás e, talvez, teria priorizado um pouco mais a minha formação acadêmica, mas é algo que já está nos planos para que eu recupere isso no final de 2019, início de 2020, é o foco, até porque hoje a gente já tem uma carteira de clientes nessa área, já colhemos os frutos, então agora é hora de sedimentar o escritório para os próximos passos e fortalecer o currículo, a veia acadêmica dos sócios, no meu caso em particular, que está um pouco mais avançado, é esse o ponto.
Ficou algo sem esclarecer?
Direito Condominial
Gabriel: Eu acho que não.
Eu queria destacar um ponto muito importante da sua trajetória, Saulo, que é o fato de você ter definido sua atuação profissional com base em um problema que você tinha, e isso, na minha visão, é uma ótima prática que um advogado pode ter.
No ramo das startups, existem vários estudos dizendo que a maior parte dos fundadores de empresas de sucesso fundam essas empresas para resolver problemas que eles mesmos tinham, são apaixonados por aquele problema e não pela solução.
E, por mais que o Saulo reconheça como uma falha ele ter deixado a especialização em segundo plano, dependendo, isso pode ter sido uma grande vantagem competitiva, porque, à vezes, se você acaba de formar e não sabe ainda direito o que vai fazer, você já se matricula em uma-pós graduação ou em um mestrado e percebe que aquela não é a área de atuação que tem mais oportunidades para você, você pode estar gastando dinheiro em uma área que não será aquela em que você vai atuar.
Agora, se você já sabe o problema, já tem uma clientela maior para aquilo, já faz bem mais sentido você buscar uma especialização para isso.
Saulo: Perfeito. Você tocou num ponto, Gabriel, que você falando, eu acabei lembrando.
Não foram poucos os colegas que seguiram esse caminho: ao concluir a graduação iniciaram pela especialização e, hoje, não atuam naquela área em que se especializaram.
Tudo tem suas vantagens e suas desvantagens, sair da graduação e já se especializar favorece para seu currículo, sobretudo se você tiver pretensões acadêmicas e confesso, quando eu concluí, esta não era uma pretensão é inicial para mim, queria trabalhar no mercado, participar e angariar clientes, então não era minha prioridade naquele momento.
Com três anos de atuação nesse segmento, aí sim, hoje me vejo muito mais maduro, inclusive para escolher minha especialização.
Eu estou numa fase de pesquisa, estou pesquisando universidades pelo Brasil inteiro, EAD, presencial, enfim, hoje eu consigo enxergar melhor o que eu preciso para dar os próximos passo.
Como tudo na vida, têm dois lados as escolhas que nós fazemos.
Gabriel: E Saulo, quais são os problemas de sua advocacia e do seu escritório hoje e quais seus objetivos para daqui a cinco anos?
Saulo: Hoje, nossa maior dificuldade são justamente os processos internos porque, como o escritório evoluiu rapidamente, a gente não “inchou”, que é como a gente costuma brincar aqui, que seria aquele crescimento rápido e desordenado, mas a gente cresceu significativamente e as demandas também aumentaram.
Consequentemente, a gente se vê com um problema que é: o estabelecimento dos processos internos, a padronização desses processos, justamente para que a gente possa aumentar a equipe.
Nós ainda rodamos, praticamente, apenas Thiago e eu nas operações do escritório, tivemos uma estagiária por um curto período, mas ela precisou se afastar e a gente abriu, na semana passada, um novo processo seletivo porque queremos trazer alguém para formar dentro do escritório, é essa a perspectiva, trabalhamos também, de alguns meses para cá, com alguns advogados parceiros, eles não são sócios efetivamente, mas apenas parceiros em questões pontuais, então, hoje, nosso desafio é arrumar e projetar a casa para um crescimento ainda maior.
Estamos em um ponto que se assumirmos muitos mais clientes, a operação ficará inviabilizada, então não querermos chegar a esse ponto, mas se preparar para que, quando a demanda vir, já estejamos organizados.
Gabriel: E como vocês estão tentando resolver esse problema hoje?
Saulo: Primeiro, como eu mencionei, trazendo o reforço do estagiário, alguém que a gente possa inserir dentro desse procedimento e formar dentro do escritório e trazendo advogados parceiros.
A gente tem conversado muito com colegas que têm interesse pelas áreas empresarial, condominial e imobiliária.
Mas, sobretudo, colegas recém-formados e que estejam com aquele gás de iniciante que a gente tem e que tenham uma visão, pelo menos mínima, para essas áreas, para que a gente possa debater internamente, crescer e, então, conquistar uma fatia maior do mercado.
Semana passada, nós fizemos algo muito interessante.
Foi um ciclo interno de capacitação, trouxemos uma colega fora do corpo do escritório, que veio ministrar para gente um minicurso, em uma tarde, sobre Juizados Especiais porque, mesmo que seja uma coisa que a gente faça frequentemente, é sempre bom trazer alguém que se intitula como especialista, como no caso dela, naquele segmento, para reforçar nosso conhecimento e tirar dúvidas.
Então foi uma tarde muito bonita, nós tínhamos lá os parceiros que estão conosco nessa caminhada, essa advogadas e, ali, a gente vai criando uma base de relacionamentos que, certamente, serão aproveitados no escritório.
Gabriel: Legal. Hoje, cada vez mais eu percebo que essas parcerias são uma tendência, muitos escritórios fazendo parcerias porque você consegue aumentar o portfólio de serviços que você oferece para os clientes sem ter que aumentar o custo fixo, nem sempre você quer contratar mais pessoas, nem sempre você tem recursos financeiros para isso.
Então, certamente, essa é uma boa opção para os colegas advogados para crescer no escritório de uma forma organizada.
E, Saulo, queria saber se você tem alguma ferramenta no seu escritório que te ajuda, algo que você indicaria para algum advogado, algum software, se você acha que isso é interessante ou não.
Saulo: Sim. Hoje, a matriz do escritório roda, basicamente, na suíte do Google, então a gente usa as ferramentas de lá: o Drive do Google, a Agenda do Google.
Hoje, a gente ainda não opera com software específico para a área jurídica, a gente se alimenta muito do que o Google oferece e se utiliza do Trello para fazer gerenciamento dos processos internos e outros aplicativos menores pro dia-a-dia. Basicamente é isso a gente faz.
Uma coisa interessante é que nosso escritório opera, majoritariamente, no modelo remoto.
A gente não possui uma sede fixa onde Thiago e eu nos encontramos diariamente.
Nós rodamos à distância e unificamos os atendimentos dos clientes, hoje a gente faz isso em dois dias, na quarta-feira pela manhã e na sexta-feira, à tarde, é quando nós estamos à disposição dos clientes para atendimento no escritório.
E a gente se utiliza do modelo parecido com o do médico, dizemos que atendemos naqueles turnos a partir de tal hora de acordo com a ordem de chegada.
É, também, uma coisa interessante e que a gente foi amadurecendo com o tempo.
Antigamente, a gente marcava horário com o cliente e, se ele não aparecia, acabávamos ficando com aquele horário ocioso e, quando a gente foi mudando para esse sistema, isso foi suavizado, como a gente já sabe que tem aquele bloco de tempo, ficamos à disposição de quem chegar e, enquanto não tem ninguém para atender, vamos adentrando a outras questões internas.
É um modelo que roda muito bem. E eu faço questão de dizer isso: o nosso escritório é muito enxuto em termos de gastos, consequentemente, isso aumenta nossos ganhos nossa lucratividade.
Apesar de ser um escritório formal, com CNPJ, computador, todas as despesas tributárias e administrativas que são necessárias, a gente tenta minimizar os custos onde for possível.
Então, hoje, a gente não tem secretária, não temos um atendimento full time presencial, até pelo nosso perfil de cliente e, mais uma vez, eu vou destacar isso, nossa clientela não exige esse tipo de atendimento.
Geralmente é por WhatsApp, por e-mail, a gente vai até o condomínio ou empresa, eventualmente, se precisamos.
Enfim, foi o modelo que encontramos para atender melhor nossa necessidades.
Mas, farei uma ressalva, apesar de não termos a pretensão de migrarmos para um modelo totalmente presencial, à medida que o volume aumenta, a gente sente de ampliar o contato presencial entre os sócios e colaboradores de escritório.
Então, como disse, começamos com um presencial, hoje estamos com dois e, ao longo do tempo, talvez precisemos elevar mais um pouco isso daí.
Considerações Finais
Gabriel: Muito legal, Saulo, parece até que o escritório de vocês é uma startup, porque vocês usam todas as metodologias.
Acho que isso que o Saulo trouxe vale uma grande reflexão para os advogados que insistem em investir em salas, cartão de visita, naquela “maneira de mármore”, naquelas formalidades que funcionam ainda, impressionam alguns clientes, mas vários clientes já pararam de dar valor para isso, muitos estão valorizando mais um atendimento ágil, uma personalização na prestação de serviço e nem sempre isso precisa ser presencial.
E, por mais que você precise, em algum momento de uma sala, de ter um atendimento presencial maior, talvez, no início, não seja o caso.
Talvez você possa começar online e ir migrando aos poucos como o Saulo nos compartilhou aqui. Saulo, você tem mais algum recado, algo que você gostaria de passar para os colegas, alguma dica valiosa para um escritório de advocacia que está nos escutando?
Nós temos muitos ouvintes que estão no início da advocacia, outros advogados que estão começando a inovar, a implementar boas práticas de gestão, mas muita vezes não têm tempo, o que você tem a dizer para essas pessoas?
Saulo: Olha, Gabriel, primeiro que essa conversa é muito agradável, falar sobre novos modelos de advocacia é sempre muito bom.
Para o colega que nos ouve, independente de sua etapa na advocacia, deixo uma dica: procure estudar gestão, pessoas, negociação, procure fugir de sua área técnica apenas.
A área técnica é essencial, mas você precisa se dedicar a um estudo mais amplo.
Eu mencionei a questão da especialização aqui, mas eu digo que, apesar de não ter a especialização formal ainda, sou um autodidata, gosto muito de buscar informações novas.
Eu tenho uma mini biblioteca em casa, compro os livros digitais, hoje é muito fácil obter informação, basta ele querer isso.
Então é importante que o advogado esteja sintonizado com os aspectos da gestão, ele não pode esquecer que é um empreendedor e se atualizar também na sua área que ele elegeu para se formar como advogado.
Importante participar de grupos, associações, como você mencionou,, enfim, o advogado deve estar o tempo todo buscando novidades e se conectando a pessoas, não é possível ficar dentro de escritório e esperar o cliente bater na porta, isso não vai acontecer e, se acontecer, será muito raro.
Gabriel: Saulo, muito obrigado, primeiro pela sua transparência, pela sua honestidade em trazer tudo o que funciona e o que não funciona para você.
Pontos que você considera que não foram tão bons na sua trajetória e que poderiam ter sido melhores, acho isso muito valioso para quem está escutando.
No Direito ainda existe uma cultura, às vezes, de muitos profissionais vaidosos que têm medo de contar alguns pontos que poderiam ser melhores durante a sua trajetória e a gente vê que você é um advogado completamente diferente e a sua trajetória é muito bonita.
Primeiro que tem poucos anos que você se formou e, mesmo assim, já está com um problema de excesso de clientes, uma parte dos advogados tem problema com a captação de clientes.
Saulo: É uma triste realidade, mas é verdade.
Gabriel: E, uma outra questão que eu acho muito interessante da trajetória do Saulo é que ele escolheu a sua profissão como advogado, mas no nicho dele de Direito Condominial com base em um problema e não com base, exclusivamente, na paixão dele.
Ele tem sim paixão por mediação, conciliação, por arbitragem, pelos métodos adequados de resolução de conflitos, mas ele não ficou apenas nesse mundo do sonhos em que muitas pessoas estão hoje.
Ele realmente identificou um problema real de um nicho específico, em que ele provavelmente conhecia várias pessoas, tanto que ele era síndico, e, com base nessa oportunidade, foi construindo toda sua atuação profissional.
E, dentro disso, depois de conseguir captar os ´primeiros clientes, até ficar lotado de tanto cliente, foi começando a buscar mais coisas sobre gestão, inovação para melhorar os processo internos do escritório e, ao mesmo tempo, se especializando do ponto de vista jurídico.
E o recado final que o Saulo nos deixa é que, muitas vezes vale a pena a gente fugir da área técnica e estudar gestão, estudar pessoas. É isso, Saulo.
Saulo: É isso aí, não sei se está nesse nível não, mas vai chegar.
Basicamente, Gabriel, é isso, a gente tem que ser verdadeiro, apaixonado, sim, mas usar sempre a razão como baliza e, eu sei que o mercado jurídico não é fácil, não é brincadeira, mas essa tem que ser a perspectiva dos advogados: deve minimizar custos, pensar diferente, em inovação e estudar gestão.
Eu agradeço essa oportunidade, a todos que acompanham o Lawyer to Lawyer, é uma honra estar aqui e desejo vida longa ao programa.
Gabriel: Obrigado, Saulo! Obrigado colega advogado, colega advogada que está sempre presente aqui no podcast da Freelaw, não é fácil a gente ter essa iniciativa, vocês já sabem disso, mas a gente fica sempre muito feliz com os comentários positivos que recebemos nas redes sociais e também por aprender com histórias bacanas como a do Saulo.