#02 Como sobreviver em um ambiente de crise na advocacia – c/ Jaqueline Sá
No episódio #02 do Lawyer to Lawyer, o Podcast da Freelaw, Jaqueline Sá nos contou como se adaptou ao ambiente de crise na advocacia do Brasil. Apresentando novas táticas de captação de clientes e possíveis maneiras de aplicar a inovação em um campo tão conservador.
Gabriel Magalhães
É um dos fundadores da Freelaw e o Host do Lawyer to Lawyer. É bacharel em Direito pela Faculdade Milton Campos. Possui formação em Coaching Executivo Organizacional, pelo Instituto Opus e Leading Group. Formação em Mediação de Conflitos, pelo IMAB, e em Mediação Organizacional, pela Trigon e pelo Instituto Ecossocial. Certificações em Inbound Marketing, Inside Sales e Product Management pelo Hubspot, RD University, Universidade Rock Content, Gama Academy e Tera, respectivamente.
Jaqueline Sá
É advogada tributária, empreendedora e apaixonada por inovação. Sócia na JMSLaw desde abril de 2018, cujo desafio é democratizar o Direito Tributário, tornando acessível aos pequenos e médios empreendedores as mesmas oportunidades tributárias que grandes empresas possuem.
Antes de empreender no Direito, Jaqueline integrou por quase 10 anos times tributários de escritórios especializados. Após colaborar com o sucesso dos sócios, resolveu ir em busca de sua realização profissional: trocar a atuação tática por uma atuação estratégica; refletir sobre o contexto atual da advocacia, com seus desafios e tendências (colaboração, inovação e tecnologia); pensar em novas formas de atuação e também em oportunidades de negócios; exercitar a excelência no Direito, sem frescura.
Jaqueline: Me formei em 1999, na Cândido Mendes do centro do Rio de Janeiro.
E como todo estudante de Direito, achava que eu não sabia nada, e de fato sabia muito pouco. Então optei por concurso público.
Fui aprovada na a Escola de Administração do Exército, na Bahia. Morei em Salvador por cerca de quatro anos. Foi uma experiência bem legal. Sou filha de militar, então a carreira não tinha muito tabu, ao meu ver.
Em compensação, pude perceber o que não queria para a minha atuação na área do Direito.
Comecei a estudar novamente para concurso público, não no âmbito militar, mas para o Ministério Público.
Após alguns anos de estudo, me mudei para São Paulo, que para mim, é o lugar das oportunidades. Uma cidade perfeita para quem topa correr atrás e dar a cara a tapa. Me apaixonei pela cidade.
Atuava na área criminal, em um escritório boutique com dois professores universitários. Ali, comecei a atuar na área tributária e vi a oportunidade de me relocar de vez.
Sempre trabalhei em escritórios que se dizem boutique, que são escritórios que possuem alto grau de especialização, foco no relacionamento com o cliente e conhecimento técnico.
Trabalhando diretamente com empresas, tive um comichão de empreender, de fazer a diferença.
Então, seguindo todo esse comichão, com toda a tecnologia disponível e várias idéias revolucionárias, como a de vocês, resolvi me enquadrar na nova realidade.
É perceptível que temos um fôlego para empreender no direito. Eu estou nessa luta. Desde o ano passado.
Gabriel: Quando começamos a carreira do direito, geralmente, pensamos em seguir um caminho específico, fazer concurso ou advogar. Mas a carreira pode não ser tão linear assim.
Jaqueline: No meu caso, minha carreira sempre foi dinâmica. Eu fiz um pouco da advocacia pública e fui assistente jurídica na Fundação Roberto Marinho, então tinha experiência de propriedade intelectual.
Mas o que eu acho interessante no Direito, inclusive para qualquer carreira, é o conhecimento multidisciplinar, tanto dentro do direito quanto na aquisição de novas habilidades. Amplia o leque tanto de vida, quanto de atuação.
Tendo contato com outros profissionais, de outras áreas vai fomentando em você uma curiosidade e também vê uma maneira diferente de atuação.
Como se reinventar na sua profissão
Então, acho que isso é muito importante para um profissional do Direito. Respirar além, não abrir mão de outros conhecimentos.
Eles vão sempre agregar, principalmente na área de Direito Tributário.
O tributário está detido na nossa vida, todo mundo compra, vende e presta o serviço. É algo dentro do cotidiano.
Gabriel: Uma frase sua que chamou muito a minha a atenção foi: “o conhecimento multidisciplinar abre um leque de oportunidades.”
Isso vai muito de acordo com um texto que escrevemos recentemente no blog da FreeLaw, sobre a Advocacia do Futuro.
Tem um estudo que fala que 85% das profissões de 2030 ainda não existem. Então significa que a gente vai ter que se reinventar.
Por exemplo, antigamente não existia Drone e hoje em dia já existe uma profissão de piloto de drone.
Saber se reinventar é essencial para conseguir se adaptar a esse novo ambiente de crise. Isso vale também para o próprio direito. Hoje, muito se fala de Head de inovação, produto para o escritório, fatores que nunca foram cogitados antes.
Jaqueline: No Direito hoje, somos em torno de 1.300.000 advogados.
O fato de existir tanto profissional já é uma questão que nos impulsiona a procurar um diferencial. Tem muita gente boa no mercado.
Hoje o destaque está justamente no chamado jogo de cintura.
Eu acho que especializações são importantíssimas, mas não podemos esquecer de ser um profissional de venda. Dentro da nossa área, a venda do nosso trabalho acaba sendo um tabu.
O advogado autônomo: como empreendedor
Jaqueline: Uma outra expressão que não julgo adequada é: “Eu sou advogado autônomo.”
Não é advogado autônomo, é um empreendedor, tem que pensar com a cabeça de empreendedor, se vender e colocar o seu produto a venda.
Na verdade, o produto é uma experiência , é o que você oferece para o seu cliente. Você advogado, é um produto.
Essa questão da inteligência artificial, no direito, vemos muitos textos falando : “você se sente ameaçado porque estão inovando.”
Li uma reportagem de um país, que não me lembro qual, onde criaram um algoritmo, um programa que interpreta leis e tudo mais. Então, se é para existir modificação no âmbito jurídico, que seja feita por nós. Acho que temos sempre que buscar novas habilidades.
O advogado tem que aprender estatística, um pouquinho de negócio, de marketing e de marketing digital. Essas são as novas habilidades necessárias, o novo cotidiano.
Para determinadas pessoas que me perguntam o que fazer após a formatura, com essa questão de direito digital: De direito digital hoje, o que a gente conhece é o direito civil ou processo civil revisitado. Você não tem uma grande novidade.
A parte de programação sim está muito em alta. É uma oportunidade para qualquer área do Direito.
A preocupação cabível atualmente é entender um pouquinho de TI, conversar com profissionais dessa área e pesquisar um pouco dos métodos das startups .
São os processos que trazem agilidade e até uma questão de administração do tempo. Eu acho que é fundamental para essa parte de novas habilidades.
Gabriel: Eu concordo com tudo o que você disse.
Realmente essas novas habilidades, o conhecimento multidisciplinar e aprofundamento em outras áreas, são fatores importantes. Não só para direito, mas para todas as profissões.
Têm sido cada vez mais dito pelas grandes empresas de consultoria do mundo e cada vez mais praticado também entre as empresas.
Conversando com advogados, pude concluir que existe uma grande dificuldade de realmente viabilizar tudo isso. A maioria tem interesse na área de inteligência artificial, mas não consegue aplicar no dia a dia, na sobrecarga de trabalho natural que todo advogada passa.
Como você consegue vencer esse desafio no dia a dia do seu escritório ?
Inovando no direito
Jaqueline: A questão do tempo é tentar administrar e estabelecer processos. Tentar manter uma questão de padronização de disciplina e ordem. Eu não vejo esses métodos de otimização de tempo como algo que engesse, muito pelo contrário. Acredito que seja o ideal para a questão, principalmente a sobrecarga.
Costumo indicar um livro que é conhecido como “O manual do empreendedor”. Ele ensina formas de aplicar o empreendedorismo e lidar com as diversas dificuldades enfrentadas.
Quando pensamos em empreender, temos a finalidade de ser nosso próprio chefe.
Então, de uma certa forma, foi o que aconteceu comigo. Estou ajudando essa turma a ganhar dinheiro.
Não necessariamente eu faço algo que eu gosto ou acredito, principalmente na parte tributária, que está muito ligado com a ética de planejamento tributário.
Você simplesmente tenta empreender como técnico. Na verdade, quando empreende como técnico, você acaba virando o seu chefe.
Você, ao mesmo tempo que vai fazer a parte técnica, tem que fazer o financeiro, tem que se vender, tem que fazer um prospecto, uma proposta e tem que visitar clientes. Tudo vem da questão da administração do tempo.
Como otimizar seu tempo com ferramentas digitais
Jaquline: Então para isso, hoje, por exemplo, eu trabalho com um aplicativo que se chama Trello. Tem alguns clientes que preferem o Slack. São aplicativos onde você faz uma certa forma, um workflow, mas mais detalhado.
Você estabelece tarefas, estabelece metas e vai cumprir essas metas. Existem outros aplicativos, como por exemplo, para fins de controle de prazo em escritórios.
Eu tento fazer a ideia do escritório a baixo custo. Então aqui em São Paulo sou Associada da AASP, que é uma associação dos advogados aqui do estado de São Paulo, que eu acho um espetáculo. Eles eles têm um software de controle de processos.
Para quem associada, paga em média e sessenta e nove reais por mês, é gratuito. Você tem um sistema de acompanhamento de prazo, que pelo aplicativo ele te manda mensagem para lembrar.
Você consegue brincar também com a sua agenda no Google. Eles têm um cowork fantástico aqui perto da Paulista, num prédio belíssimo, super tecnológicos.
Então assim eu tento administrar meu tempo de uma forma profissional e organizada. Que isso nenhum aplicativo vai fazer por mim. Questão de priorizar o método e utilizar ferramentas.
Eu trabalho de preferência com aplicativos gratuitos, até por uma questão de custo e são bons aplicativos. Tudo também depende da sua demanda.
Hoje eu não preciso pagar por um aplicativo de controle de prazo de processo, eu sei que existem softwares gratuitos muito bons nesse sentido. Então eu faço uso dessas ferramentas, e eu super recomendo.
Gabriel: Você trouxe muito a respeito desse conceito de vendas que é um mito para o advogado e até uma novidade também.
Como você faz isso na prática?
Respeitando também o código de ética, você tem processos definidos para captar clientes?
Novas técnicas de captação de clientes na advocacia
Jaqueline: Então, eu faço da seguinte forma. A primeira coisa para você vender, é identificar para quem você vai vender e o que você vai vender.
Então, hoje se utiliza muito o termo persona, antes era usado o termo público alvo.
Por exemplo o meu público alvo são os pequenos e médios empresários. Eu estabeleço por exemplo, você até comentou sobre drones.
Eu presto serviço para as empresas e para escritórios de advocacia que não tem propriedade na área de direito tributário, até por uma questão comercial. Como se fosse uma terceirização do tributário.
Nesse contexto, tive um cliente, uma empresa que importa drone, uma das maiores importadoras aqui no Brasil. E importava sobre uma determinada classificação fiscal.
Ao final de 2017, a Receita Federal internalizou os pareceres da Organização Mundial das Aduanas, que mudou a classificação fiscal do drone.
Antes era um avante, que era um veículo aéreo não tripulado e o OMA decidiu que teria classificar como máquina fotográfica.
Tem toda uma regra de classificação, e não parte de um drone mais, mas de uma câmera. Eles entendem que tem que classificar pelo principal.
Eles entenderam que a classificação seria através da máquina fotográfica, por óbvio quase triplicou a carga tributária.
O que aconteceu? Eu vi ali uma oportunidade, escrevi a respeito, publiquei no meu site e no meu Linkedin, que é outra excelente ferramenta gratuita.
Eu vejo que muitos advogados não usam ou, quando usam, usam de forma a parecer que só um mero currículo.
Mas através do Linkedin, eu procurei por drones e apareceu para mim empresas de drone que tem página do Linkedin.
As vezes, você consegue contato até o próprio CEO da empresa ou gerente da empresa. Eu enviei um convite, e dessa maneira de vender o meu trabalho.
Como utilizar o Linkedin na advocacia
Jaqueline: A utilização no Linkedin, deve ser realmente como de uma rede social, porque hoje eu acho que a questão da venda, está muito ligada ao relacionamento, principalmente na nossa área. Com um código de conduta muito forte e que você não pode “furar o olho” do teu concorrente.
Então, na realidade, você lança conteúdo. Também deve participar de seminários, de eventos, de preferência de eventos para quem não é da área do direito.
Então você deve ir em seminários no Sebrae, vai na Firjan, na Fiesp. Nesses lugares, além de se destacar, você faz networking e também consegue indicação.
Hoje, essas são as ferramentas que utilizo para a captação.
Gabriel: Experiência legal que não custa nada. Você adiciona a pessoa no Linkedin, você escolhe o seu público alvo, e você começa a se relacionar naturalmente.
Pode ser que aparecem oportunidades. A gente sempre pensa que é difícil captar clientes, mas não é tão complexo.
Talvez seja a melhor forma de começar, de uma maneira mais simples e a partir disso e aprimorar a estratégia.
Disse que o escritório de vocês tem um site, muitos advogados ainda tem essa dor.
Muitos ainda não gostam, ou não tiveram ainda essa atualização.
Como foi esse processo de construção do site? Você contratou uma empresa ou aprendeu a fazer sozinha?
Conhecimento multidisciplinar
Jaqueline: Eu ainda não cheguei nesse nível de construir o meu próprio site. Mas vontade não me falta, porque existe uma carência desse profissional, que construa um site para escritório de advocacia.
Quando se fala em construir um site do escritório de advocacia. Qual é o maior erro dos advogados e dos grandes escritórios?
Fazem site voltado para outros advogados ou escritórios de advocacia.
O maior erro do advogado, hoje, é ele não se popularizar.
O advogado tem a mania de escrever difícil, de escrever complicado para parecer que erudito, e escrever para outros advogados.
No site é a mesma coisa. Então tem muito site de advocacia estereotipado, na minha opinião.
Estamos passando por um momento de crise, e será que seu cliente está preocupado se você tem uma baita biblioteca ou um baita escritório?
O que será que passa na cabeça do seu cliente?
A minha primeira questão com relação ao site foi de fugir do óbvio. Então eu fiz um site um pouquinho diferente.
Eu contratei uma empresa, mas o resultado ficou aquém. Tanto do custo, que na minha opinião, ele cobrou razoavelmente caro.
E ficou muito engessado, não era ainda o que estava procurando.
E aí dentro, dessa perspectiva de você conhecer pessoas diferentes, com habilidades diferentes, eu conheci pessoas sempre através de contatos.
Você conhece uma pessoa e, de repente, essa pessoa te apresenta dez pessoas incríveis.
E assim eu conheci um pessoal de programação, que fizeram um curso que, inclusive, você fez, na Gama Academy.
Gabriel: Fiz sim, inclusive o Pedro Severo, que participou do último episódio, também é um ex aluno do Gama Academy.
Para quem não sabe, o Gama Academy é uma escola que prepara profissionais para o mundo digital. Então pega pessoas do direito, medicina, engenharia, veterinária, e começa a preparar essas pessoas, para aprender essas habilidades.
Um programa de cinco semanas e na última semana acontece uma feira de contratação.
Jaqueline: Eu conheci tanto um advogado, quanto um programador. Assim descobri que meu site pode ser muito mais dinâmico e com um custo menor.
Acho que é interessante a gente entregar alguma coisa diferente para clientes.
Então, hoje, você vê grandes escritórios, como por exemplo o Batista Luz. Um escritório grande tanto na área de direito, quanto de Startup e inovação. Eles disponibilizam excelentes modelos de contrato, por exemplo.
Então o empresário se pergunta, se tenho modelo desse disponível, será que eu preciso de um advogado?
Às vezes você vai ter uma minúcia ou outra, dependendo do tipo de relação que você queira traduzir no contrato.
Mas no geral, o advogado, para valer a pena, vai ter que ter um diferencial. Ele vai ter que ter algo a mais.
Hoje eu faço um MBA de gestão fiscal e tributária, onde identifiquei que as pessoas da área fiscal são carentes de ajuda, de análise e de orientação. E o setor fiscal dentro de uma empresa, é o rim, ele filtra tudo.
Dentro desse critério, também de legal design, você pode deixar uma definição. Mas a questão do visual está em alta hoje em dia.
Como que se traduz a uma história, um conceito visualmente.
Eu fiz um modelo de extrato fiscal, de um contrato, destacando que além do CNPJ existem diversas informações que já são pré definidas, que já deveriam vir em um contrato.
Por exemplo, de prestação de serviços, onde você tem uma retenção de uma gama de tributos.
Isso facilita a vida de todo o mundo, tanto de quem vende o serviço, quanto de quem contrata, evita a surpresa.
E aí eu levei quarenta e cinco minutos para fazer . Postei em um domingo, e dizem que no domingo não acontece nada no Linkedin, mas eu discordo.
Eu disponibilizei, e vinte e quatro horas depois, tinha mais de 2200 visualizações, e o custo para mim foi zero.
Então, se eu alimento a minha rede de relacionamento com informação, eu vou virando referência.
Porque as vezes a questão do marketing é ser caro. Existem escritórios de advocacia que tem pessoal próprio para isso. Tem assessoria de imprensa, tem orçamento e a gente não consegue concorrer.
Então a gente concorre com o nosso diferencial. Com esse trabalhinho de formiga, de você pensar no cliente, identificar uma necessidade dele e a partir daí criar um relacionamento.
Você consegue construir com qualidade uma rede de relacionamento e de repente fidelizá-la.
Talvez tem pessoas ali esperando que você publique um outro modelo de extrato, por exemplo um contrato de compra e venda.
É tudo uma questão de experiência, de acerto e erro, mas sempre pensando no custo.
Enquanto eu mesma puder fazer, ao mesmo tempo que eu aprendo, eu economizo. Então vou fazendo esse teste de experimento.
Gabriel: Muito boa a experiência que você está compartilhado com a gente. Tenho certeza que será muito valiosas para os advogados que nos ouvem.
Destaco muito essa parte do site, que é uma dor para muitos escritórios. Fazer um site dinâmico mesmo.
A maioria dos escritórios que a gente vê tem o site completamente desatualizado.
As vezes iniciou de uma forma que é difícil fazer a manutenção.
Hoje existem muitas ferramentas, que você consegue fazer sites, até mesmo sozinho. Como por exemplo o Wix, uma plataforma super simples e intuitiva.
Aqui na FreeLaw a gente usa o WordPress, fomos nós mesmo que fizemos o nosso site.
Nós temos uma equipe de programação aqui, é claro. Quando eu digo nós, são os advogados da Freelaw mesmo, que não tinham nenhum background em tecnologia.
A gente estudou e aprendeu, em dois dias conseguimos subir um site legal.
Tenha paciência de apreender. Marketing pode ser caro, mas da para gente fazer com diferentes orçamentos.
Tem um artigo que a gente fez aqui na FreeLaw, que chama Marketing Jurídico.
É um artigo grande, bem completo, que a gente descreveu várias estratégias de marketing que um escritório pode executar para conseguir captar clientes, cabíveis em vários orçamentos.
Eu tenho algumas perguntas finais para você
Quais são os maiores desafios que você vive hoje no seu escritório? E como que você enxerga seu escritório daqui a cinco anos?
Maiores desafios em um ambiente de crise
Jaqueline: Hoje, o maior desafio é sobreviver num ambiente de crise na advocacia, eu digo isso porque a crise afetou todos os escritórios.
Então, por exemplo, os grandes escritórios, antes pegavam causas no valor até de X, agora pegam X-Y.
A concorrência é ferrenha e para você realmente se destacar num ambiente em que existem excelentes profissionais, demanda em você, uma atualização constante e uma preocupação tanto na parte técnica, quanto na parte de vendas.
Eu acho hoje que o meu maior desafio , e o estatuto da OAB aumenta esse desafio, é a venda. Você se vender como um profissional capacitado e capaz de entregar aquilo que você promete.
Daqui a cinco anos eu me vejo num aquário dentro de um coworking, compartilhando e aprendizado. Através de um trabalho colaborativo.
Não é uma meta virar uma sociedade com vários advogados. Por isso eu acho muito bacana o trabalho da FreeLaw, que faz essa intermediação tanto de cliente quanto de outros profissionais.
Eu acho que o futuro da nossa profissão é compartilhar, que seja até um lugar comum, mas você multiplica. E isso é a minha vivência.
Quanto mais compartilho meu conhecimento, mais eu recebo em troca.
Então, em cinco anos, me vejo em um aquário, em um espaço comum, com três, quatro pessoas, que cuidem mais da minha parte administrativa
Porque a parte do Direito é compartilhar. Tanto com consultores, quanto com outros advogados.
Então tentar esse dinamismo mesmo . Não tenho o sonho de ser enorme, de ser um mega escritório.
Tenho sonho de realmente viver o dia a dia do cliente, principalmente na parte empresarial, ver esse cliente crescer.
Porque se ele crescer, você cresce com ele.
Então é crescer junto. Mas não crescer em termos de estrutura, mas sempre em redes de relacionamento. Assim que me vejo daqui a cinco anos.
Gabriel: Que legal escutar isso, Jaqueline. Fico até emocionado, porque o que você disse agora é um pouco do nosso propósito na Freelaw.
A gente quer realmente ajudar os advogados a trabalharem de uma forma diferente, trazer mais colaboração, proporcionar parcerias e ajudar os escritórios a criarem equipes jurídicas online.
E realmente conseguirem crescer, sem necessariamente aumentar a estrutura.
Uma última pergunta. Você tem algum livro, tecnologia ou ferramenta que você gostaria de indicar para advogados que estão passando por esse problema?
Indicações de livros para advogados empreendedores
Jaqueline: Um livro que eu indico, inclusive que mencionei anteriormente, que é “O manual do empreendedor” . Ele foi um soco no estômago, porque você começa a ler e se identificar com tudo o que está fazendo de errado.
E eventualmente, você acha algo que está fazendo bem.
Então é um livro que é tipo uma Bíblia, para você ler várias vezes.
Tudo vai depender do momento que você está. Tanto de cabeça quanto de fase de amadurecimento desse empreendedorismo.
E tecnologia, eu estou participante de um experimento de uma startup que ela está sendo acelerada aqui em São Paulo.
São uns meninos muito bons, do Rio Grande do Norte, chama JurisIntel . Um tipo de inteligência artificial que você alimenta o sistema, que dentro dos parâmetros, junta todas as suas petições, todos os seus textos, conforme você vai criando as tags.
Então, por exemplo, fiz uma petição inicial sobre a exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS Cofins.
Eu tinha uma petição salva no meu HD do escritório, uma petição que tinha no meu notebook, já trabalhei em vários escritórios, estava um lugar diferente.
Ele junta tudo de acordo com os termos que você coloca e futuramente ele vai puxar a jurisprudência atualizada sobre o tema.
Então você vai estar sempre com as suas petições salvas num determinado arquivo.
Junto disso, o próprio sistema já vai puxar a jurisprudência.
Então, eu acredito que em pouco tempo eles vão estar no mercado, eles estão numa fase de teste.
Inclusive, eles encontram uma certa dificuldade, porque advogados não gostam de divulgar suas petições.
Só que esquecem que o processo eletrônico, em sua maioria, não pede sigilo.
Todas as petições estão na Justiça Federal, estão no Tribunal de Justiça, estão na rede.
Acredito muito nessa tecnologia da JurisIntel.
Eu queria ver uma startup que fizesse esse cruzamento de informação e que não fosse a IOBit e nem a TOTVS , que não fossem essas grandes empresas.
Para quebrar um pouco desse certo monopólio de informação. Mas é basicamente isso.
Gabriel: Quanto mais advogado inovadores, maior o dinamismo no Direito.
Jaqueline, tem algum recado ou consideração final que queria deixar para nossos ouvintes?
Jaqueline: Tenho um recado.
Eu faço parte da Comissão da Inovação e Startup da OAB de Santos, uma comissão que quebra todos os paradigmas, para quem quiser participar, está convidado.
A ideia é levar capacitação para os advogados, na parte de inovação. Lembrando que inovação não é só a tecnologia, inovação é você pensar diferente.
Você ver uma oportunidade onde ninguém viu , e fazer algo diminuir o tempo de processo.
Gabriel: E quando você fala da comissão da OAB de Santos, eu não posso deixar de mencionar a nossa gratidão à Comissão de Direitos de Startups da OAB de Minas Gerais. Se eles não fizessem um trabalho tão qualificado, provavelmente a FreeLaw não existiria. Nosso agradecimento à Paula Figueiredo, Lorena Lage e aos diversos mentores que lideraram essa iniciativa.
Jaqueline: Espero um dia poder receber um agradecimento assim também.
Gabriel: Em breve vocês terão feito muita diferença.